terça-feira, 5 de maio de 2009

JUIZ ODILON DE OLIVEIRA – ESSE É O CARA DE VERDADE

 

*Francisco Carlos Garisto com reportagens da Revista Época e o Estado de S.Paulo

Odilon de Oliveira, de 56 anos, estende o colchonete no piso frio da sala, puxa o edredom e prepara-se para dormir ali mesmo, no chão, sob a vigilância de sete agentes federais fortemente armados. Oliveira é juiz federal em Ponta Porã, cidade de Mato Grosso do Sul na fronteira com o Paraguai e, jurado de morte pelo crime organizado, está morando no fórum da cidade. Só sai quando extremamente necessário, sob forte escolta. Em um ano, o juiz condenou 114 traficantes a penas, somadas, de 919 anos e 6 meses de cadeia, e ainda confiscou seus bens. Como os que pôs atrás das grades, ele perdeu a liberdade. “A única diferença é que tenho a chave da minha prisão”, analisa Odilon.

Traficantes brasileiros que agem no Paraguai se dispõem a pagar US$ 300 mil para vê-lo morto. Desde junho do ano passado, quando o juiz assumiu a vara de Ponta Porã, cidade que faz fronteira com o Paraguai e porta de entrada da cocaína e da maconha distribuídas em grande parte do País, as organizações criminosas tiveram muitas baixas.Nos últimos 12 meses, sua vara foi a que mais condenou traficantes no País.
Oliveira confiscou ainda 12 fazendas, num total de 12.832 hectares, 3 mansões - uma, em Ponta Porã, avaliada em R$ 5,8 milhões - 3 apartamentos, 3 casas, dezenas de veículos e 3 aviões, tudo comprado com dinheiro das drogas. Por meio de telefonemas, cartas anônimas e avisos mandados por presos, Oliveira soube que estavam dispostos a comprar sua morte.

“Os agentes federais descobriram vários planos para me matar”, inicialmente com oferta de US$100 mil.” Revela o juiz .No dia 26 de junho, o jornal paraguaio Lá Nación informou que a cotação do juiz no mercado do crime encomendado havia subido para US$ 300 mil. “Estou valorizado”, ironizou sem medo. Ele recebeu um carro com blindagem para tiros de fuzil AR-15 e passou a andar armado e escoltado por agentes federais.

Para preservar a família, mudou-se para o quartel do Exército e em seguida para um hotel. Há duas semanas, decidiu transformar o prédio do Fórum Federal em casa. “No hotel, a escolta chamava muito a atenção e dava despesa para a PF.” É o único caso de juiz que vive confinado no Brasil. A sala de despachos de Oliveira virou quarto de dormir. No armário de madeira, antes abarrotado de processos, estão colchonete, roupas de cama e objetos de uso pessoal. O banheiro privativo ganhou chuveiro. A família , mulher, filho e duas filhas, que ia mudar para Ponta Porã, teve de continuar em Campo Grande. O juiz só vai para casa a cada 15 dias, com seguranças.

Oliveira teve de abrir mão dos restaurantes e almoça um marmitex, comprado em locais estratégicos, porque o juiz já foi ameaçado de envenenamento. O jantar é feito ali mesmo. Entre um processo e outro, toma um suco ou come uma fruta. “Sozinho, sem os federais , não me arrisco a sair nem na calçada.”

Uma sala de audiências virou dormitório, com três beliches e televisão. Quando o juiz precisa cortar o cabelo, veste colete à prova de bala e sai com a escolta. “Estou aqui há um ano e nem conheço a cidade.” Comenta Oliveira . Na última ida a um shopping, foi abordado por um traficante. Os agentes tiveram de intervir.

Azar do tráfico que o juiz tenha de ficar recluso.. Acostumado a deitar cedo e levantar de madrugada, ele preenche o tempo com trabalho. De seu “bunker”, auxiliado por funcionários que trabalham até alta horas da noite, vai disparando sentenças.

Como a que condenou o mega traficante Erineu Domingos Soligo, o Pingo, a 26 anos e 4 meses de reclusão, mais multa de R$ 285 mil e o confisco de R$ 2,4 milhões resultantes de lavagem de dinheiro, além da perda de duas fazendas, dois terrenos e todo o gado. Carlos Pavão Espíndola foi condenado a 10 anos de prisão e multa de R$ 28,6 mil. Os irmãos , condenados respectivamente a 21 anos de reclusão e multa de R$78,5 mil e 16 anos de reclusão, mais multa de R$56 mil, perderam três fazendas.

O mega traficante Carlos Alberto da Silva Duro pegou 11 anos, multa de R$82,3 mil e perdeu R$ 733 mil, três terrenos e uma caminhonete. Aldo José Marques Brandão pegou 27 anos, mais multa de R$ 272 mil, e teve confiscados R$ 875 mil e uma fazenda.
Doze réus foram extraditados do Paraguai a pedido do juiz, inclusive o “rei da soja” no país vizinho, Odacir Antonio Dametto, e Sandro Mendonça do Nascimento, braço direito do traficante Luiz Fernando da Costa, o Fernandinho Beira-Mar.

“As autoridades paraguaias passaram a colaborar porque estão vendo os criminosos serem condenados.” Avalia Oliveira.

O juiz não se intimida com as ameaças e não se rende a apelos da família, que quer vê-lo longe desse barril de pólvora.

Ele é titular de uma vara em Campo Grande e poderia ser transferido, mas acha “dever de ofício” enfrentar o narcotráfico. “Quem traz mais danos à sociedade é mega traficante. Não posso ignorar isso e prender só mulas (pequenos traficantes) em troca de dormir tranqüilo e andar sem segurança..” justifica o juiz recluso.

Acostumado com a luta desde criança.

Odilon Oliveira nasceu há 58 anos na pequena Exu, cidade do sertão pernambucano. Terceiro dos oito filhos dos lavradores Expedito e Domercília, teve uma infância miserável. Passou fome, mas resistiu. Alguns primos e um irmão não sobreviveram à pobreza. Para evitar novas mortes, a família fugiu da seca e embarcou na carroceria de um caminhão para tentar a sorte em Mato Grosso do Sul, Estado que promovia um programa de colonização.

Odilon começou a trabalhar na roça aos 5 anos, plantando arroz, mandioca e criando galinhas – tudo para subsistência. Aos 9 anos, começou a estudar incentivado pela mãe. “Meus pais eram analfabetos, mas na família da minha mãe tinha gente que sabia escrever cartas. Por isso ela me forçava a estudar”, diz. Tomou gosto pelos livros e passou a vender ovos e legumes para poder comprar lápis e caderno. Virou o centro das atenções da família, que todas as noites se reunia em torno de um lampião a querosene para ouvir Odilon ler literatura de cordel.

Após terminar o ensino médio, passou no vestibular de Direito de uma universidade particular de Campo Grande. Para custear os estudos, trabalhou como professor primário em uma cidade próxima. Acordava às 4 da manhã e chegava em casa depois da meia-noite. Formado em Direito, passou em vários concursos públicos. Foi procurador da União, promotor de justiça, juiz estadual, até chegar, em 1986, ao cargo que ocupa hoje: juiz federal. Ele é o único da família que conseguiu um diploma de curso superior.

A infância sofrida e a adolescência difícil parecem menos cruéis que a atual realidade do juiz. “Apesar de eu não me arrepender de nada do que fiz, a vida que eu levo hoje é mais dura. Eu sou uma pessoa mais triste do que eu era antes”, admite o doutor Odilon.

A miséria maior é que o juiz vislumbra um futuro ainda mais obscuro. “Eu tenho medo do que vai ser daqui a 11 anos, quando eu me aposentar. Vou perder a proteção policial e ainda vai ter muita gente querendo se vingar de mim”, diz. Sua escolta será reduzida aos santinhos e à imagem de São Jorge, que descansa em cima de seu armário.

Funcionário público como o juiz Odilon de Oliveira é que deveria ser exaltado diariamente pela mídia e pela população brasileira e não policiais de um trabalho só, que usam a carreira para trampolins eleitoreiros e eleitorais.

Funcionário Público como Odilon é que deveria receber de presente merecidamente, pelo risco e trabalho prestado, um cargo em Emabaixada do Brasil no exterior para ganhar com segurança 20 mil dólares por mes, juntamente com a sua família , que estaria em segurança.

Funcionário público como Odilon é que deveria ser lembrado para assumir vagas nos Tribunais Superiores Federais e não alguns apaniguados do governo de plantão.

Brasileiro como Odilon de Oliveira é que deveria receber votos para deputado, senador ou até presidente da república e não traidores de suas instituições que trabalham mais para a mídia do que para o Brasil.

Os traficantes e bandidos condenados por Odilon de Oliveira podem até ameaçá-lo, mas devem ter nas suas mentes que , se algo acontecer com esse juiz federal os executores e os mandantes da maldade serão caçados em qualquer lugar do mundo por todos os Agentes da Polícia Federal.

Enfim, Odilon de Oliveira é o CARA de VERDADE !

*Francisco Carlos Garisto é Conselheiro e ex-Presidente da Federação Nacional dos Policiais Federais-FENAPEF